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Jornada de trabalho: horas a mais não garantem trabalho melhor

Acaba de se lembrar de uma pendência urgente fora do horário de trabalho? Antes de escrever um e-mail para alguém da sua equipe pedindo ajuda, ou antes de decidir trabalhar mais algumas horas depois do jantar com a família, dê uma olhada no que está acontecendo na França e no que dizem algumas recentes pesquisas que relacionam eficiência e produtividade com horas de trabalho.

Em maio de 2016, o governo francês recorreu a uma manobra parlamentar para evitar a rejeição da polêmica reforma trabalhista proposta pela Lei El Khomri, batizada em referência à atual ministra do trabalho no país, Myriam El Khomri. A lei introduz novas regras nas relações entre patrões e empregados no país – várias delas polêmicas, como novos critérios que facilitam demissões. Como resultado, a proposta tem sido alvo de inúmeros protestos na França nos últimos meses.

Uma das novidades considerada a favor dos trabalhadores é o chamado direito à desconexão. Agora, funcionários poderão ficar ‘desligados’ de seus celulares e ignorar e-mails de trabalho após às 18h e antes das 9h, e as empresas não poderão obrigá-los a checar ou responder mensagens.

De certa forma, a novidade na França poderia ser considerada uma atualização na era digital para tratar um velho axioma trabalhista: ninguém quer fazer um trabalho para o qual não está sendo pago. No entanto, os fatos mostram que a desconexão tem benefícios tanto para o patrão como para o trabalhador.

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Sobrecarga x produtividade

Um estudo recente da Universidade de Boston, nos Estados Unidos, revelou que profissionais que fingem trabalhar muito são tão bem avaliados quanto os que realmente trabalham 80 horas por semana ou mais. O estudo, conduzido pela professora Erin Reid, contou com entrevistas a mais de 100 profissionais e teve acesso às suas respectivas avaliações de desempenho, identificando três principais grupos:

O primeiro grupo foi o dos workaholics: as pessoas que trabalham longas horas e dedicam, de fato, a maior parte do tempo ao trabalho e à carreira. Estes, em geral, recebem boas avaliações e são promovidos. O segundo grupo era o dos resistentes: aqueles que falam abertamente sobre seu desejo de realizar jornadas de trabalho mais flexíveis e evitar sacrifícios, como longos deslocamentos para chegar ao local de trabalho ou perder o horário daquela apresentação de teatro na escola dos filhos. De acordo com o levantamento, as pessoas nesse grupo costumam receber avaliações piores, mesmo quando não há evidências de que seu trabalho seja inferior ao do primeiro grupo. O terceiro grupo foi o que chamou mais atenção no estudo: o grupo dos fingidores – profissionais que, silenciosamente, conseguem fazer uma jornada de trabalho mais leve e flexível, chegam mais cedo daquela reunião no cliente externo, mas enviam e-mails depois do horário para passar a impressão de que trabalharam até mais tarde para os colegas e para o chefe. De acordo com o estudo, os fingidores são tão bem avaliados quanto os workaholics.

Não por acaso, esses dados lembram o que aconteceu no século 19 quando, como resultado da luta de organizações trabalhistas e sindicais, as fábricas foram obrigadas a reduzir suas jornadas de trabalho para 10 horas por dia (e, em seguida, para 8 horas por dia). Ao contrário do que os patrões esperavam, a redução da jornada de trabalho melhorou a produtividade, diminuiu o número de acidentes e reduziu custos gerados por falhas humanas.

Estresse e baixa produtividade

Estes estudos não querem dizer que uma eventual semana de trabalho mais duro não possa gerar resultados muito satisfatórios. Mas trabalhar 60 horas por semana de maneira excepcional é bem diferente de trabalhar demais de maneira crônica. Numerosos estudos mostram que o excesso de trabalho e o estresse resultante disso têm efeitos negativos na saúde das pessoas, incluindo piora na qualidade do sono, depressão, consumo excessivo de álcool, diabetes, perturbações da memória e doenças cardíacas.

Esses problemas de saúde não afetam só os indivíduos, mas também são terríveis para os resultados da empresa: aumentam o número de faltas, a rotatividade de funcionários e os gastos com seguro de saúde.

Até mesmo os empregadores mais gananciosos, que não se importam com o bem-estar dos funcionários, devem reconhecer a evidência dos custos reais quando muitos colaboradores cumprem jornadas de trabalho excessivas com muita frequência.

Uma mensagem ainda mais importante para líderes

A nova lei francesa foi elaborada considerando a vida pessoal dos empregados, mas o fato é que quanto mais dinheiro você ganha e quanto mais você estudou, maior a probabilidade de você assumir papéis de liderança dentro das organizações e de permanecer em conexão com seu trabalho mesmo nas horas de folga. Dentre as consequências desse estado de alerta contínuo, além do estresse e outros efeitos físicos, estão impactos negativos à eficácia da gestão.

Estudos apontam que a comunicação interpessoal, a inteligência emocional e o discernimento – habilidades importantes no dia a dia de qualquer gestor – são prejudicadas pela sobrecarga de trabalho e com a falta de descanso. Mesmo se você ama o seu trabalho e trabalha longas horas voluntariamente, você simplesmente corre mais risco de cometer erros quando não descansou o suficiente. Apenas 1% a 3% da população pode dormir 5 ou 6 horas por noite sem sofrer algum impacto negativo no desempenho físico e intelectual. Para gestores, o direito à desconexão pode também ser considerado como a opção pelo melhor desempenho. Um artigo da Harvard Business Review resumiu: “continue trabalhando demais e, progressivamente, ocupe-se cada vez mais de tarefas sem sentido”.

A conexão constante é um efeito colateral da transformação digital, mas não é inevitável. Independente de legislações em qualquer país, desenvolvedores de softwares inteligentes estão criando maneiras para devolver às pessoas o poder sobre comunicação digital. Em plataformas de comunicação profissionais, administradores podem, por exemplo, restringir os horários para envio de notificações para os colaboradores em um grupo de trabalho. Como líder, você pode ter certeza de que sua equipe receberá sua comunicação quando estiver engajada no trabalho e livre de distrações pessoais.

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